sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

UNIOGBIS: Ramos Horta na “pole-position” para substituir Joseph Mutaboba



José Ramos Horta (esq.) e Joseph Mutaboba (dir.)
Por Nelson Herbert, Jornalista
AS NAÇÕES UNIDAS, cedendo à pressão das autoridades da Guiné-Bissau, deverão substituir o diplomata ruandês, Joseph Mutaboba, pelo antigo Presidente de Timor Leste, José Ramos Horta sobre quem recaem agora os maiores consensos para mediar o processo de transição naquele país.
O ex-líder timorense, que em cenários anteriores de crises político-militares na Guiné-Bissau já fora chamado a intervir na mediação, conta, para já, com o apoio dos Estados membros da CPLP, para além de gozar da simpatia da liderança do regime deposto na sequência do golpe de estado de 12 de Abril último.
A irreversibilidade da decisão da ONU em substituir Joseph Mutaboba a frente do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz, a UNIOGBIS naquele país lusófono foi confirmada ao NJ por fonte próxima do gabinete do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Para o efeito, Mutaboba é aguardado já na próxima semana em Nova Iorque no âmbito dos “briefings” periódicos ao Conselho de Segurança da ONU, sobre a crise política na Guiné-Bissau naquela que poderá ser a sua última intervenção, na qualidade de representante das Nações Unidas, naquele país lusófono.
Aquele órgão da ONU deverá analisar o clima de insegurança reinante em Bissau marcado pela permanente violação dos direitos humanos e a tendência para um crescendo da actividade do narcotráfico no país.
O diplomata ruandês deverá ainda acertar com os responsáveis daquela organização mundial, os preparativos para a “passagem do testemunho” ao novo representante do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné Bissau, o que deverá acontecer até o fim do ano em curso.
APREENSÃO
José Ramos Horta, antigo Presidente de Timor Leste
José Ramos Horta, antigo Presidente de Timor Leste
O ex-presidente timorense, José Ramos Horta, tem-se manifestado disponível em servir a ONU, nos esforços de pacificação e de estabilização em curso e a essa disponibilidade não são alheias às recentes deslocações à capital timorense, Díli, do presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca e da liderança guineense deposta em Abri último pelos militares.
Encarada em parte como a personalidade com perfil para facilitar a aproximação da CPLP às autoridades de transição bissau-guineenses, desavindas desde o golpe militar de 12 de Abril último, a eventual indigitação de Ramos Horta para cargo, não é, porém, vista com bons olhos por determinados sectores do poder estabelecido em Bissau e por alguns países da região.
Em causa emerge, desde logo, o receio de que a CPLP venha a valer-se da lideranca de Ramos Horta, para ascender com um maior protagonismo na busca de saidas para a crise, possibilidade que, de resto, lhe vem sendo condicionada por Bissau.
Analistas da crise guineense contactados pelo Novo Jornal encaram o carisma e a experiência diplomática do antigo Prémio Nobel da Paz, como uma espécie de mais-valia ao desejo da comunidade internacional de ver restabelecida a paz e a ordem constitucional na Guiné-Bissau.
MUTABOBA – “PERSON NON GRATA”
Joseph Mutaboba, Gabinete Integrado da ONU para a Consolidação da Paz
Joseph Mutaboba, Gabinete Integrado da ONU para a Consolidação da Paz
Invariavelmente com os militares na génese dos conflitos, a liderança de Joseph Mutaboba ao longo dos três anos à frente da UNIOGBIS ficaria marcada por um clima de difícil coabitação com as instituições castrenses guineenses.
Nos seus relatórios periódicos a Nova Iorque, o representante do secretário-geral da ONU tem demonstrado uma atitude de denúncia frontal face à interferência dos militares na vida política do país aliada às suspeitas de ligação com o narcotráfico.
Aliás, foi a “avalanche de informações sobre o aumento do tráfico de drogas no país ” que levou o general António Indjai a sugerir recentemente às autoridades de transição, a considerarem Joseph Mutaboba como “persona non grata” viabilizando assim a sua consequente expulsão do país.
Numa carta datada de 9 de Outubro e assinada pelo ministro dos negócios estrangeiros guineense, Faustino Imbali, o governo de transição formalizava perante Ban Ki-moon, o pedido de substituição do diplomata ruandês à frente do Gabinete Integrado das Nações Unidas das Nações Unidas para a Consolidação da Paz, a UNIOGBIS.
Na carta, a que o Novo Jornal teve acesso,Bissau evoca como argumento o facto das suas expectativas quanto ao desempenho e à postura daquele representante especial da ONU no país terem sido defraudadas. Aquele diplomata é ainda acusado de ter-se furtado ao diálogo com o governo de transição saído do golpe militar e de, por conseguinte, ter deixado “de servir os interesses peculiares do processo de transição, revelando-se pouco relevante na satisfação dos propósitos dos responsáveis locais pela transição” — lê-se ainda na mesma carta.
A missiva em questão terá dado entrada na sede da UNIOGBIS, precisamente na altura em que o representante do secretário-geral das Nações Unidas encontrava-se em Luanda para consultas com as autoridades angolanas.
Nos corredores da sede das Nações Unidas em Nova Iorque, a intenção das autoridades guineenses foi encarada como um gesto de mera cedência às pressões dos militares. Um expediente que terá para o efeito contado com o beneplácito da diplomacia francesa em Nova Iorque, já que Paris nunca conseguiu disfarçar a sua animosidade para com aquele diplomata, quanto mais não fosse pelo facto do engajamento deste ter sido determinante para a presença da missão de cooperação militar angolana, MISSANG, indesejável aos interesses daquela antiga potência colonial e dos seus aliados estratégicos na região.
Recorde-se que Joseph Mutaboba vinha assumindo desde Fevereiro de 2009 a liderança do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz, UNIOGBIS, sensivelmente um mês antes dos assassinatos do então chefe de estado-maior das forças armadas, o general Tagma Na Waye e do presidente Nino Vieira.
Agastado com a situação de impasse do processo de estabilização guineense, Mutaboba chegou a considerar a hipótese de se transferir para outras missões da ONU, nomeadamente na Libéria e na Etiópia, cargos para os quais chegou a apresentar as candidaturas, tendo, entretanto, ambas sido preteridas GBISSAU

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