sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Presidente de transição da Guiné-Bissau compromete-se a promulgar leis apenas com consenso partidário


Um longo discurso num dia "muito importante" e que marcou o final da cerimónia de assinatura do Pacto de Transição por parte do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e de mais quatro outros partidos.
O Pacto fora assinado por vários partidos na sequência do golpe de Estado de 12 de abril mas o PAIGC, o maior partido e que estava no poder até essa altura, sempre se recusara a assinar o documento, mantendo-se à margem do período de transição.
Serifo Nhamadjo, perante uma Assembleia Nacional cheia de altas figuras do Estado, de todo o governo de transição e de todas as chefias militares, fez um discurso de regozijo pela adesão do PAIGC (que é também o partido ao qual pertence) mas também de apelos à união e de avisos.
"Estou feliz por ver que a segunda etapa (do período de transição) está a ser consolidada. Mas que haja sinceridade nos trabalhos. Quem entrou antes não pense que é dono do processo e quem entrou hoje não pense que é mais importante. Todos são importantes", afirmou.
Serifo Nhamadjo começou por elogiar Kumba Ialá, antigo presidente do Partido da Renovação Social (PRS), segundo maior partido, e que abandonou a corrida à liderança no último congresso (hoje com presença discreta na Assembleia).
Depois disse contar com todos para fazerem do processo de transição "um ponto final nos diferentes conflitos que têm assolado o país".
Perante as principais autoridades do país em todas as áreas falou a seguir da "vergonha" que é a Guiné-Bissau estar em conflitos cíclicos, sem conseguir terminar nunca uma legislatura ou um mandato presidencial e o país estar na imprensa internacional "pelos motivos mais vergonhosos".
"Porquê tantos assassinatos, tantas maldades, tantas intrigas? O espírito de egoísmo, de intriga, tem sido de facto o que nos tem estado a destruir. Hoje a política é de fragmentar para poder dividir e reinar", disse, acrescentando: entre os partidos "a inimizade é feroz", dentro deles há "guerras intestinas" e na sociedade civil, dos artistas aos empresários "há contradições".
Serifo Nhamadjo considerou ainda que o país vai iniciar uma nova fase mas avisou que "a inclusão não significa trazer alguém e tirar outro" e que "não há maiorias nem minorias, tem de haver é debate de ideias".
Depois criticou ainda o tribalismo, "um fenómeno que é um escudo para os medíocres ", avisou que quem defende o tribalismo para ganhar votos deve ser levado à justiça, e perguntou como é que a Guiné-Bissau chegou ao ponto de uns terem tudo e outros viverem na miséria, de os antigos combatentes viverem "a mendigar", de as forças armadas nem água potável terem, de os guardas de fronteira nem uma bicicleta terem, de a marinha não ter um barco capaz e de a força aérea não ter um avião.
"De Buba a Catió (cidades do sul do país), quase 40 anos de independência, não há um pingo de alcatrão. Estamos aqui em Bissau pensando que a Guiné-Bissau é só Bissau. Desafio os políticos a inverter a tendência, para que o desenvolvimento seja do campo para a cidade", afirmou, deixando outro aviso: "não há ninguém entre nós que ganhe" com intrigas e confusões, porque "o que for carrasco hoje será certamente vítima amanhã".
Além de Serifo Nhamadjo, o primeiro vice-presidente da Assembleia, Augusto Olivais, falou também no final da cerimónia, quando prometeu que Assembleia irá "tudo fazer para gerir as diferenças" entre partidos e apelou aos países que apoiavam a Guiné-Bissau e que retiraram a ajuda a "retomar a contribuição".
FP // PJA
Lusa/fim

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