quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

BREVE RESUMO DA SITUACAO NA GUINE BISSAU


Antonio indjaiA alegada sublevação militar, com vista à alteração da ordem constitucional, que atormentou a cidade de Bissau na
segunda-feira passada, já se saldou em dois mortos. Tratam-se de um elemento da Polícia de Protecção Pública de nome Vladimir Lopes Crato (vulgo Lenin) e o major na reserva Iaia Dabó.
O primeiro foi atingido a tiro no dia 27, no âmbito de uma operação levada a cabo na casa do deputado Roberto Ferreira Cacheu, no Bairro de Luanda, o qual veio a falecer horas mais tarde no Senegal e o segundo foi abatido nas instalações da Polícia de Protecção Pública, junto da 2ª Esquadra, em circunstâncias de rendição.
Iaia Dabó, segundo uma fonte que confidenciou a agência Lusa, era procurado pela polícia, acusado de ter sido o autor dos disparos contra o agente da Polícia de Protecção Pública que acabaria por morrer.
Também o ministro do Interior, Fernando Gomes, disse que o polícia que morreu no Senegal terá sido atingido a tiro quando se deslocou para a residência de um deputado, no Bairro de Luanda, onde alegadamente estariam escondidos alguns militares.
"Tivemos a informação de que estavam escondidos na casa desse político alguns elementos da rebelião e armados. Quando os agentes lá chegaram, foram recebidos a tiro. Um dos nossos agentes foi atingido com oito tiros no corpo", disse o ministro.
Iaia Dabó era major da polícia, mas estava fora da corporação desde a morte do seu irmão mais novo, o ex-ministro e deputado, Baciro Dabó, assassinado em Junho de 2009, em circunstâncias ainda por esclarecer.
A operação realizada na residência do deputado Roberto Cacheu resultou na sua destruição completa (como se vê na foto), com uso de armas automáticas. O filho do proprietário da casa, Canjura Djalo, disse que nenhum bem material foi recuperado e tudo ardeu.

O desenrolar da situação

Segundo factos que o Nô Pintcha recolheu no terreno, de fontes confidenciais, a acção de sublevação militar iniciou-se na madrugada do dia 26 de Dezembro, quando um grupo de militares dirigiu-se ao paiol do Estado-Maior do Exército, sito no ex-QG, tendo ali retirado armas.
Com essas armas dirigiu-se para o Estado-Maior General das Forças Armadas, na Amura, tendo preso alguns militares. Foi daí que se alertou a movimentação estranha de militares subversivos e se comunicou imediatamente às unidades da capital. As mesmas fontes indicaram que horas mais tarde, o grupo subversivo teve confrontos no Estado-Maior do Exército, embora sem sucesso, porque esta localidade acabaria por ser libertada, graças a intervenção de um reforço de militares vindos de Mansoa.
Aquando desse acontecimento, todas as unidades militares da capital, com excepção da Marinha de Guerra Nacional, estavam, pelo menos, há cerca de duas semanas em estado de prevenção.
Esse acontecimento apanhou de surpresa os citadinos de Bissau, obrigando a paralisação das actividades vitais, a redução da circulação de pessoas e viaturas nas diferentes artérias da capital.
Embora, o acontecimento decorreu em segredos profundos, em que ninguém quer prestar declarações concretas sobre o assunto, o Nô Pintcha apurou que o chefe de Estado-Maior da Marinha, o contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto foi detido e conduzido na tarde do dia 26 para a prisão de Mansoa.
Reunião entre militares e o Governo
Depois da detenção do José Américo Bubo Na Tchuto, o Governo reuniu-se com o Estado-Maior General das Forças Armadas, na sala de reuniões do Ministério da Defesa Nacional, tendo, da parte do Executivo, participado os ministros da Defesa Nacional, Baciro Djá, do Interior, Fernando Gomes e da Educação Nacional, Ciências, Cultura, Juventude e Desportos, Artur Silva. Nessa reunião ausentou-se o chefe de Estado-Maior da Força Aérea, o Major General Papa Camará, que se encontra fora do país.
Após esse encontro, o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai foi interpelado pelos jornalistas, tendo dito o seguinte: “Há um grupo que quer alterar a ordem, mas já está normalizado, porque o Estado-Maior tomou controlo da situação”. Quanto aos nomes das pessoas envolvidas nessa possível intentona, o próprio Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas preferiu não revelá-los e garantiu que as Forças Armadas já submeteram o caso ao Governo.
Em circunstâncias similares, realizou-se um outro encontro no Palácio Colinas de Boé, que juntou o Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Júnior e alguns membros do Executivo, o Presidente da Assembleia Nacional Popular e Presidente da República Interino, Raimundo Pereira, do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas acompanhado do seu vice e outros altos oficiais.
Interpelado pela imprensa, o ministro Artur Silva pronunciou-se em nome do Governo: “A situação está sob controlo” e anunciou que houve feridos. O ministro disse que vai ser instituída uma comissão de inquérito para averiguar com profundeza esse acontecimento. Este governante confirmou a imprensa que foi um assalto ao paiol do Estado-Maior do Exército, no qual ouve fuga de armas para a Marinha de Guerra Nacional e feridos.

Comunicado do Governo

Sob a presidência de Sua Excelência Dr. Raimundo Pereira, Presidente da Assembleia Nacional Popular e Presidente da República Interino, reuniu em sessão extraordinária o Conselho de Ministros, em que participaram Sua Excelência o Primeiro-Ministro, Senhor Carlos Gomes Júnior e alguns membros do seu Governo. Foram convidados a tomar parte nesta reunião o Senhor Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, o qual se fazia acompanhar dos Senhores Vice-Chefe de Estado-Maior e demais Chefias Militares. A mesma tinha por objectivo o esclarecimento dos factos ocorridos na madrugada de hoje, 26 de Dezembro e a tomada das medidas que a situação impõe.
O Senhor Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas informou as autoridades presentes que um grupo de militares efectuou um assalto ao Paiol das Forças Armadas, sito nas instalações do Estado-Maior do Exercito, em Bissau, dele tendo retirado armas e munições que de seguida foram transportadas para o Estado-Maior da Marinha.
O Senhor Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas informou ainda os presentes que para além de altas patentes militares, também estão envolvidos neste processo alguns elementos civis, desconhecendo-se ainda as motivações que estiveram por detrás do acontecimento. O Senhor Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas informou ainda que parte significativa deste grupo encontra-se já detida e que a situação está sob o controlo das Forças Armadas.
Antes de terminar, o Senhor Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, o Tenente General António Indjai, reafirmou perante Sua Excelência o Senhor Presidente da República Interino, Dr. Raimundo Pereira, a total subordinação das Forças Armadas ao poder civil constitucionalmente instituído e a sua firme determinação em contribuir para a instauração de um clima de paz e estabilidade na Guiné-Bissau.
Ouvidas as informações assim prestadas e depois de uma profunda avaliação da situação, Sua Excelência o Senhor Dr. Raimundo Pereira emitiu orientações à Chefia do Estado-Maior General das Forças Armadas e à Procuradoria Geral da República para que fossem imediatamente abertos inquéritos para o cabal esclarecimento da situação e identificação dos seus autores, os quais deverão ser submetidos às medidas de coação prevista na lei e levados à Justiça.
Sua Excelência o Presidente da Assembleia Nacional Popular e Presidente da Republica Interino, Senhor Raimundo Pereira, pediu à população em geral para que se mantenha tranquila, confiando na capacidade das instituições da República em resolver e controlar a situação.
Sua Excelência o Presidente da Assembleia Nacional Popular e Presidente da Republica Interino exortou ainda o Governo a prosseguir com o esforço de reformas em curso no sector da Defesa e Segurança, as quais visam não só assegurar maiores condições de dignidade aos nossos militares e agentes da Ordem Pública, bem como modernizar as nossas Forças de Defesa e Segurança, as quais devem estar, permanentemente, ao serviço do Povo.





Feito em Bissau, aos 26 de Dezembro de 2011.
Na ausência da Ministra da Presidência do Conselho de Ministros, da Comunicação Social e dos Assuntos Parlamentares
Artur Silva
Ministro da Educação Nacional, Cultura, Ciência, Juventude e dos Desportos


Comunicado da Oposição Democrática

Os partidos da oposição, auto-proclamados por “Oposição Democrática”, na qual fazem parte o PRS, PRID, UPG, PDG, PDSSG, FCG.SD, PPD, UDS, RGB, CD, PADEC, MP, CNA, FLING e o PRN, reuniram-se na terça-feira, em Bissau, para uma análise exaustiva dos acontecimentos politico-militares, do passado dia 26 do corrente, da qual tornaram público a sua posição.
Segundo o comunicado enviado à nossa Redacção e rubricado por Ibraima Sori Djaló, na qualidade de coordenador, a Oposição Democrática alega que não está na posse de informações fiáveis, oficiais e suficientes, para que possa, de forma inequívoca e objectiva, pronunciar-se sobre tais factos.
No documento lê-se, entre outras coisas, que o próprio Governo revela-se incapaz de esclarecer o assunto, e a prova, é a manifesta contradição entre as declarações do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, que afirma estar-se perante um golpe de Estado aberto, e as do ministro da Educação, no papel de porta-vos, que diz estarmos perante um grupo de militares amotinados que assaltaram um paiol de armamentos.
No comunicado, a Oposição Democrática reafirma, no entanto, a sua inequívoca posição, de que em qualquer circunstância, é contra qualquer tipo de levantamento militar, com a finalidade de alteração da ordem constitucional por meios violentos e anti-constitucionais, sendo por isso, a todos os títulos, a favor de um Estado democrático e de Direito. Nestes termos, a Oposição Democrática condena qualquer comprovada tentativa de golpe de Estado ou de levantamento de militares, que ponham em causa a nossa constituição e o Estado de Direito em que vivemos, tendo em conta que a veracidade de tais acusações tem de ser efectiva, para não se voltar a cometer assassinatos premeditados, como os ocorridos com os políticos Hélder Proença e Baciro Dabó, em 2009.
Numa das passagens do documento, ainda se lê que a Oposição Democrata consciente das suas responsabilidades, reafirma-se em defesa e reforço do estado de direito e da democracia, porque os problemas da democracia só se resolvem com métodos democráticos.
fonte  : jornal no pintcha

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